Educação Ambiental: Perspectiva Histórica


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Poderia tomar como marco inicial dos problemas ambientais a necessidade do ser humano em viver agrupado em famílias e aldeias, originando as primeiras cidades, como afirmou o biólogo Samuel Murgel Branco, ou mesmo com o domínio do fogo.

Porém, a característica dessa pesquisa não é o aprofundamento nas origens da Educação Ambiental, mas a justificativa de sua existência como tema transversal nas escolas.

Diante desta limitação de contexto, quero delimitar o presente histórico em algumas etapas como, por exemplo, para o professor doutor em serviço social, Loreiro (2003), a partir do período de 1501 a 1760, quando se deu a grande expansão das colônias européias, incluindo o Brasil, com a exploração desenfreada da madeira e o início do capitalismo agrário.

No início deste período, Américo Vespúcio constata que o Brasil não era uma ilha, e sim, parte de um continente. Constata também a abundância de pau-brasil, madeira de grande utilidade na Europa. Tem-se ai o “desembarque” do capitalismo.

A educação implantada no Brasil foi a jesuítica, da Companhia de Jesus, chefiada pelo padre Manoel da Nóbrega e com a missão de catequizar índios e educar colonos.

No ano de 1759 o ministro do rei Dom José I, marquês de Pombal decretou a expulsão dos jesuítas, fechou instituições e mudou os estatutos dos colégios e das missões, impondo direções leigas e professores mal preparados, nomeados em cargos vitalícios para trabalhar pelo interesse do Estado. Cito este fato para situar o desenvolvimento da educação no Brasil e sua relação com as necessidades da sociedade.

No período de 1760 a 1945 houve o crescimento desorganizado da indústria, urbanização na Europa e as evidências de extinção das espécies causadas pelo homem. Trata-se de um período onde os problemas ambientais se desenvolvem sem gerar preocupações visíveis ao senso crítico, mas demonstram uma tendência de se transformar a fauna, flora e os seres humanos em mercadorias, com geração de lucro e concentração de poder.

Tudo isto aconteceu em pleno período pombalino, em que a educação estava a mercê de professores despreparados, que regiam aulas desarticuladas e eram mal pagos, demonstrando uma profunda desconexão entre educação e progresso.

O Século XVIII foi marcado pela liberdade de pensamento típico do iluminismo, uma filosofia que se libertou das escrituras sagradas e ofereceu às pessoas o conhecimento espalhado pelo mundo, condensado nas enciclopédias de forma relativamente democrática a todos que podiam ter acesso a elas e podiam discernir suas linguagens.

Nesse período ocorreu a revolução industrial, trazendo uma capacidade de transformação de matéria prima tão acelerada que marcou definitivamente o mundo a partir da Inglaterra. A primeira fase da Revolução Industrial trouxe a marca das emissões de gases poluentes e a referência de “Inglaterra verde” e “Inglaterra cinza” (antes e depois da revolução).

Na ciência, o nascimento da Química moderna se dá com o trabalho de Antonie Laurent de Lavoisier (1743 – 1794)  em seu livro  Traité élémentaire de chimie. Enquanto enriquecia com suas atividades de locador de terras e arrecadador de impostos para o estado, Lavoisier tinha tempo de sobra para dedicar-se ao laboratório. 

O pensamento livre da época do iluminismo trouxe uma intensa movimentação em torno do conhecimento e um retorno à natureza motivado pela percepção das belezas naturais.

O crescimento das cidades e a conseqüente aglomeração humana tornou cada vez mais importante o contato com a natureza, como forma de fuga das situações estressantes, passando a ser um lugar de relações humanas, e descanso.

Mudanças nos meios de transporte náutico trazidos pelo desenvolvimento tecnológico possibilitou o acesso às áreas naturais antes desconhecidas, fato que, segundo o Pedagogo Fabio Cascino constituiu o esboço da mentalidade ambientalista.

Na literatura, o Arcadismo inspirou as pessoas para a volta a uma vida equilibrada, como bem exemplifica a composição a seguir:

                                                                                                                                                                                                                                                                               

Quero

Quero ver o sol atrás do muro

Quero um refúgio que seja seguro

Uma nuvem branca sem pó nem fumaça

Quero um mundo feito sem porta ou vidraça

Quero uma estrada que leve à verdade

Quero a floresta em lugar da cidade

Uma estrela pura de ar respirável

Quero um lago limpo de água potável

Quero voar de mãos dadas com você

Ganhar o espaço em bolhas de sabão

Escorregar pelas cachoeiras

Pintar o mundo de arco-íris

Quero rodar nas asas do girassol

Fazer cristais com gotas de orvalho

Cobrir de flores os campos de aço

Beijar de leve a face da lua (Thomas Roth)

 

A segunda onda da Revolução Industrial veio no final do século XIX com a utilização dos derivados do petróleo e veículos com motores de combustão.

No final do período, em 1945 ocorreu o fim da Segunda Guerra Mundial e a conseqüente formação dos dois blocos dominantes no mundo, o capitalismo liderado pelos Estados Unidos da América e o socialismo liderado pela extinta União Soviética delimitaram um período de intensificação de mudanças tecnológicas que trouxeram evoluções nas áreas de serviço, comunicações e informações, foi o período pós-industrial. Cascino (cit.) assim se refere ao período:

Os anos que separam o final da Primeira Guerra (1918) do final da Segunda (1945) são anos de profunda transformação para a humanidade. Hobsbawm chega a afirmar que esse período não foi de duas guerras; foi de um único período, que o autor chama de “guerra mundial de 31 anos” (CASCINO, 2000, p.26).

O ritmo das descobertas científicas foi incrivelmente acelerado, chegando a somar cerca de oitenta por cento (mais de dois terços) de toda a produção ocorreram após a segunda guerra, dentre os produtos desta revolução de produção científica, uma enorme variedade de produtos químicos sintéticos revolucionou a produção agrícola, lançando uma geração de produtos com cerca de 100 mil substâncias de uso agrícola (adubos e pesticidas) que potencializavam o solo acelerando a produção e, no caso dos pesticidas, a capacidade de interagir com o mais variado número de estruturas biológicas, espalhando-se por grandes extensões por meio de águas superficiais, subterrâneas e pelo ar.

Particularmente sobre a natureza, o desenvolvimento industrial do pós-guerra trouxe ao mercado uma nova geração de produtos químicos capazes de alterar os ecossistemas de forma radical. Ainda hoje há diversos desses produtos em utilização no mundo todo, com poucos estudos de impactos negativos e muitos benefícios a produção de alimentos para atender ao crescimento populacional.

Bibliografia

CASCINO, F. Educação Ambiental: Princípios, História, Formação de Professores. 4ed. São Paulo: SENAC, 2010.

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