Uma onda muito fecunda de movimentos ambientais marcou a década de 60 que é considerada a do nascimento do movimento ambientalista, iniciado sem a participação das instituições educacionais, mas com caráter de movimento social.
Um marco de grande importância para o movimento ambientalista na época foi o trabalho da bióloga norte americana Rachel Carson e a publicação do livro “Silent Spring” (Primavera Silenciosa) escrito por ela em 1962. Em seu capítulo mais provocador, “uma fábula para o amanhã” descreve uma cidade americana onde uma grande quantidade de seres vivos e até crianças tinham sido silenciadas pelos efeitos do DDT, o mais poderoso pesticida que o mundo já conheceu.
Então uma estranha praga se infiltrou naquela região e tudo começou a mudar. Algum tipo de feitiço maléfico se instalou na comunidade: misteriosas doenças atacaram as galinhas, o gado e os carneiros adoeceram e morreram. Por toda parte pairava a sombra da morte. Os fazendeiros falavam de muitas doenças em suas famílias. Na cidade, os médicos ficavam cada vez mais intrigados com os novos tipos de doenças que apareciam em seus pacientes. Houve muitas mortes súbitas e não explicadas, não apenas entre adultos, mas também entre crianças, subitamente acometidas pela doença enquanto brincavam e morriam em poucas horas (CARSON 2010, p. 20).
Apesar da resistência da indústria de pesticidas, cientistas eminentes apoiaram o conteúdo da obra e o presidente dos Estados Unidos John Kennedy ordenou uma investigação e constatou a veracidade das informações, levando a proibição do DDT e trazendo ao debate público a importância da influência humana na natureza.
Toda a polêmica que a obra causou, não só nos Estados Unidos como em todo o mundo mudaram os olhares para as questões ambientais e acabaram tornando formal o ambientalismo.
Na Europa, em maio de 1968 os estudantes de Paris manifestaram-se por “um planeta mais azul”. A importância do movimento conhecido como “maio de 68” foi despertar o ser humano para a necessidade de não se sentir parte de uma totalidade, representada pelo Estado ou por um partido.
No mundo todo, uma série de movimentos sociais colocou a prova os modelos políticos e econômicos e começaram a revelar uma nova ética, onde as manifestações individuais pela liberdade firmaram uma cultura de questionamentos.
Foi nesse ambiente dinâmico que surgiu o ambientalismo, que segundo o autor americano Jonh Mc Corminck é resultado da convergência de outros movimentos, sendo a Ecologia, enquanto ciência, absorvida pelos adversários e, fornecendo, atualmente, elementos para defesa do ambientalismo.
Movimentos acadêmicos e culturais no Brasil davam conta de uma rejeição ao governo militar que iniciou-se de forma transitória mas dama mostras de que a transição não seria como se havia acordado.
Em 1970 a Sociedade Audubon publicou “Um lugar para viver”, manual para professores que incorporou a Educação Ambiental em atividades curriculares. Em 1972 o Clube de Roma publicou o relatório: “Os limites do crescimento econômico”, concluindo que o colapso da humanidade será causado pelo crescimento do consumo levando-se em conta o crescimento populacional, examinando o contexto que envolve os povos de todas as nações: pobreza em meio à abundância, deterioração do meio ambiente, perda de confiança nas instituições, expansão urbana descontrolada, segurança e desemprego, alienação da juventude, rejeição dos valores tradicionais, inflação e outros problemas monetários.
A ONU (Organização das Nações Unidas) promoveu a Conferência da ONU sobre Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972 onde ficou recomendada a criação de um Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA).
Surge na conferência da ONU, conhecida como PIEA a incorporação do tema ambiental com a necessidade de compatibilização da economia com o manejo sustentável.
A Educação Ambiental nasceu na Conferência de Estocolmo através do PIEA (Programa Internacional de Educação Ambiental), mas os princípios norteadores deste plano foram elaborados em 1975, em Belgrado, Iugoslávia onde os países se reuniram e formularam os princípios e orientações para o PIEA, fazendo acontecer em 1977 a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi), realizada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
Foi através da Tbilisi que a Educação Ambiental ganhou a identidade de ação capaz de envolver a sociedade dentro e fora da escola, considerando o ambiente em sua totalidade e, de forma contínua, examinar questões ambientais das mais diversas, sejam locais ou globais.
Em 1987, 300 especialistas de 100 países reuniram-se em Moscou para o Congresso Internacional de Formação e Educação Ambiental onde foram discutidas as dificuldades e os progressos das nações na área de Educação Ambiental.
Deste encontro foram estabelecidas prioridades e estratégias para o desenvolvimento da Educação e Formação Ambientais, aumentando os esforços para o treinamento de profissionais.
Em 1992, realizou-se a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), tendo como foco o Desenvolvimento Sustentável (uso planejado dos recursos naturais para garanti-los as gerações futuras).
Pode-se considerar que a Política Nacional de Educação Ambiental está ancorada nas recomendações da Tbilisi, que define a Educação Ambiental como uma dimensão dada ao conteúdo e a prática da educação, orientada para a resolução de problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares e de participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade.
Como se configurou a Educação Ambiental
Com as diversas fases relacionadas anteriormente de forma resumida e, confrontando suas recomendações com o trabalho realizado pela ONG Educológico, vemos que a Educação Ambiental não tem uma estrutura universalmente formalizada, fato que, em ambiente escolar torna-se um interessante objeto de estudo pois as escolas e os professores reclamam por uma formação específica e material de apoio consistente. Obviamente tal material não existe, pois não se trata de um componente escolar como Ciências, Matemática ou mesmo Ecologia.
É possível trabalhar a Educação Ambiental com componentes trazidos da própria experiência de vida dos estudantes, assim como acontece com os educadores, que interpretam as questões ambientais a partir de suas experiências de vida. Se levarmos em conta a função de conscientização ambiental, identificação dos problemas ambientais e capacidade de interagir com o meio a partir de ações locais como se recomenda na Educação Ambiental, nada mais original do que recorrer à subjetividade.
Bibliografia
CARSON, R. Primavera Silenciosa. São Paulo: Gaia, 2010.